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Brilho eterno de uma mente sem lembranças: um filme sobre o passado que queremos esquecer

  • Sibelly Bessa
  • 3 de nov. de 2016
  • 3 min de leitura

"Para quem sofre, é uma alegria inebriante desviar o olhar de seu sofrimento e esquecer-se de si mesmo"

Friedrich Nietzsche

Brilho eterno de uma mente sem lembranças é outra obra prima do excêntrico roteirista Charlie Kaufman. A junção do roteiro extremamente criativo e inusitado de Kaufman e a visão do diretor Michel Gondry consegue colocar as dores e aflições dos personagens em uma sintonia perfeita, nos colocando em um filme totalmente novo e inusitado, que foge totalmente dos padrões de Hollywood. Não podíamos esperar menos de Kaufman.

Porém, como todos os filmes do roteirista, Brilho Eterno de uma mente sem lembranças é um filme que precisa ser apreciado e dedicar-lhe toda a atenção necessária para a sua compreensão. Assim como a própria memória, às vezes o roteiro é confuso, misturando acontecimentos do presente e passado. A mente humana não simples, assim, também é com os sentimentos.

Somos complexos, indecifráveis e sofremos com os nossos “fins” Mas o ponto em questão é quando não conseguimos superar essas dores de modo convencional, e desejamos esquecer, apagar o que vivemos, é neste ponto que somos apresentados a empresa Lacuna que realiza o procedimento de apagar nossas memórias boas ou ruins, das quais não conseguimos esquecer. Levando os personagens Joel e Clementine a procurá-la, para dar fim ao que não conseguem sozinhos.

O filme em certos momentos - porque não dizer todos - é um emaranhado de memórias e labirintos de sentimentos soltos que se amarram no final. Até onde a máquina pode ir até onde o instinto pode vencer. É certo quem em algum momento da vida, todos desejamos controlar nossos sentimentos, lembranças, nossa vida e suas surpresas. Seja por qual motivo de uma forma maluca tentamos ter o controle de nós mesmos e do que sentimos como se fosse possível. A busca frenética pela felicidade plena, também nos causa ao longo da caminhada desgostos e decepções. Sendo subjetiva e perceptiva de maneira diferente por cada um.

Tendo essas questões em mãos Kaufman em parceria com o diretor Gondry fazem um filme brilhante que nos fazem questionar nossas relações e nosso comportamento. Tratando da natureza humana de forma suave e ao mesmo tempo complexa nos fazem entender que a algo de infantil na ideia de que as experiências ruins devem ser ignoradas para não doerem, que lembranças mesmo boas que nos causam dor e medo deve ser apagado de nós, como se nunca tivéssemos vivido.

É óbvio que o filme nos apresenta a possibilidade de esquecer, mas, talvez a questão principal lançada pelo fantástico roteiro de Charlie Kaufman esteja naquilo que deixamos para trás ao esquecer, o que perdemos. Se nossas lembranças sejam elas boas ou ruins, constrangedoras ou edificantes, humilhantes ou prazerosas, definem, de certa forma, quem somos até que ponto poderíamos escolher o que esquecer sem nos apagar também nesse processo? A facilidade que o filme apresenta pela tecnologia de “formatação” também um indício de que estamos cada vez menos resistentes a dor.

Aprender sobre a dor é um mecanismo de sobrevivência, crescimento futuro, aprendizado. Termino esta resenha com a seguinte indagação como o mundo seria se realmente a empresa “Lacuna” existisse. Se pudéssemos apagar nossas decepções, fracassos, amores, todas as memórias que de algum modo nós afeta mais que as outras? E se pudesse escolher algum momento para apagar da memória, qual seria? Assistam ao filme se deleite com o show de arte e questionamentos que ele nos proporciona, compreendendo que esquecer não é matar o que sentimentos, mas aprender a lidar com o conjunto de variáveis e perdas desse processo.

 
 
 

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